segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Catarse


O suor escorria e as lágrimas rolavam. As rosadas bochechas tinham um tom acinzentado por conta do rímel que escorria, manchando e escondendo o delicado rosto. E sempre reclamavam: “Corredora não precisa de tais caprichos, não precisa ser bonita, tem que correr bem”. Mas ela não ligava. Se ligava, não demonstrava.
Por fim, a chegada. Avistava ao longe vultos que comemoravam a primeira pessoa a aparecer depois de tanto tempo de espera. Alguns gritos eram ouvidos e o sorriso queria aparecer em seu rosto. Conteve-se. Entretanto, as lágrimas de cansaço involuntariamente tornaram-se de felicidade. Diminuiu a velocidade para admirar aquele momento tão esperado. 
Em fração de segundos passou o primeiro. O segundo. Terceiro, quarto e centésimo. Bufou. Sabia que precisava dar tudo de si, mas estava cansada. Apoiou as mãos no joelho, poucos metros antes da linha de chegada e fitou o chão. Vultos não paravam de ultrapassá-la, mas ela não podia ver. Talvez, não quisesse ver. 
Aparentemente vencido o cansaço, voltou à competição. Mas sua corrida era mais uma caminhada. Esforçou-se. O último fôlego foi para os últimos – e decisivos – passos. Ainda havia muita gente atrás, podia, pelo menos, conseguir uma posição condizente ao seu esforço. Merecida (talvez até digna!) posição.
Passou a linha. Fechou os olhos com força, ela agora sorria largamente. Abriu os braços e soltou todo o ar que estava em seus pulmões. Alívio. “Ei, cuidado com essa mão” ouviu ao longe, uma voz aguda que a tirava de seu transe comemorativo. Uniu as sobrancelhas e olhou em volta. Não estava no pódio, não era seu momento de glória. Era novamente a linha de partida.