Hey!
Decidi parar de ficar enrolando
tanto para postar algo no blog. Um dia apresentações, no outro, um texto logo.
Espero que gostem, afinal me inspirei numa música que eu particularmente adoro:
Last Kiss, do Pearl Jam. A primeira vez que ouvi, gostei apenas pela
melodia agradável. Conforme fui escutando, a curiosidade pela letra me fez
descobrir que trata-se da história de um acidente. Com isso,
decidi escrever uma história a partir da canção - o que, admito, eu adoro
fazer! Aí vai meu primeiro texto, com uma pitada de vergonha:
"Joguei mais uma pedra em sua janela. Finalmente a porta se
abriu e ela, desajeitada, saiu pela janela de seu quarto. Descer pela calha já
não era um problema para minha menina.
- Está ficando boa nisso, han? – Brinquei quando ela se
aproximou de mim aninhando-se em meus braços.
- Infelizmente tenho que ser... Em pleno século 21 tenho um
pai que me quer às sete horas em casa – Ela riu do absurdo que falava.
Soltou-se de meus braços e uniu nossos lábios. Ah! Como eu adorava essa
sensação...
Soltamo-nos aos poucos e ela arregalou os olhos ao ver o
belo carro estacionado, o qual eu tinha a chave.
- Vamos lá: o que houve com aquele carro caindo aos pedaços?
–
- Está na garagem... Esse é do patrão! – Sorri vitorioso.
- Você pegou o carro do seu pai? – Ela aumentou sua voz duas
oitavas.
- Sim! E isso é só o início das surpresas da noite – Eu
sorri. Liz nem sequer imaginava as coisas que tinha preparado para nós naquele
dia. Não que fosse aniversário de namoro ou qualquer coisa parecida, eu só...
Bem, estava com vontade de quebrar a rotina de passeios casuais com uma saída
ao maior estilo Hollywoodiano.
- Uau – Ela disse num tom divertido. Rimos e entramos no
carro.
Liguei o rádio no máximo e cantamos (aos berros) as músicas
que tocavam na rádio. Eu a estava levando para os limites da nossa cidade –
mais precisamente, na estrada quase que na entrada da cidade seguinte. Queria
que visse a maravilhosa vista que lá tinha: o reflexo da nossa pequena, porém bem
iluminada, cidade no mar. Eu não estava preocupado de acontecer alguma coisa
porque, mesmo que fosse quase que de madrugada e numa estrada, o lugar era bem
movimentado. Havia alguns bares (mesmo que bem distantes uns dos outros) e
pessoas na areia também olhavam o mar.
Liz olhou para os lados e começou a sorrir largamente.
- Estamos fugindo de vez? – Sua animação fez parecer que ela
estava falando sério.
- Quem me dera, querida! – Eu ri. Logo em seguida, ela
também riu.
- Que romântico esse lugar... – Ela olhava deslumbrada para
a janela. Eu tirei minha atenção da estrada e fixei o olhar em seus olhos. A
forma com que brilhavam era bem mais iluminado que o reflexo da cidade no mar.
Para mim, todo o resto tornou-se feio e sem graça. Liz desviou o olhar do mar e
olhou em meus olhos. O brilho dela devia estar refletindo em meus olhos, porque
seu rosto estava tão hipnotizado para com o meu, assim como o meu para com o
dela. Sorrimos. Senti um frio estranho na barriga. Uma lágrima escorreu dos
olhos de Liz e ela olhou para frente.
Não sei bem ao certo como aconteceu, foi tudo muito rápido.
Havia um carro com o motor fundido parado transversalmente na pista. Seu dono
estava fazendo sinais com as mãos para que eu freasse, seus gritos eram
desesperados e a voz de Liz, gritando, atingiu meus ouvidos. Girei o máximo que
pude o volante e enfiei meu pé no freio. Depois de alguns giros fiquei tonto o
suficiente para não entender mais nada. Só consegui distinguir sons: vidros
estourando, o pneu cantando, o grito de Liz ficando mais alto, o grito de mais
gente... Silêncio. Ficou tudo escuro.
Eu sabia o que tinha acontecido. Pelo menos minha memória
ainda estava viva. Minhas costas estavam em algo duro e meu rosto estava sendo
molhado. Surpreendi-me com a força que tive que fazer apenas para abrir meus
olhos. Uma vez abertos, descobri que o que molhava meu rosto era uma chuva
forte que caia e que eu estava deitado no asfalto. Meu coração acelerou
rapidamente com o gemido de dor que ouvi. Era de Liz.
- Amor – Ela disse com dificuldade.
- Liz! – Tentei levantar, mas eu simplesmente não consegui.
Ela foi bem sucedida e ergueu sua cabeça, tirando-a do asfalto e me olhou. Sua
mão deslizou pelo meu rosto, fazendo todo o contorno.
- Me perdoa, eu me distrai e... –
- Sh – Ela pôs seu dedo indicador na minha boca. – Não há
pelo que se desculpar! – Ela sorriu. – Nós vamos ficar bem – Ela tentou, mas eu
simplesmente não pude acreditar naquela frase. Liz tinha um tom dramático e
chorava muito. Devia ser a dor.
Algo quente passou a escorrer por minhas bochechas e então
suspirei. Liz passou o dedo enxugando aquele pingo quente de lágrima.
- Oh, Gustavo – Ela deitou a cabeça em meu peitoral e
desatou a chorar. No fundo, podia ouvir a voz do dono do carro pedindo por
ajuda.
- Liz – Sussurrei. Ela levantou o rosto cansado rapidamente.
Agora pude notar o quanto ele sangrava. – Me abrace, querida, só por um momento
– Continuei sussurrando e fechei os olhos para o abraço. Ela me abraçou forte,
como se fosse partir depois do abraço. Uniu seus lábios de forma desesperada
aos meus e mais lágrimas escorreram de meus olhos.
Abri meus olhos com cautela e vi Liz se afastar de mim e
voltar a deitar do meu lado. Nesse momento notei na quantidade de pessoas que
tinham em volta. Notei no carro estraçalhado do meu pai e nas lágrimas daquelas
pessoas desconhecidas. Um clarão muito forte fez meus olhos doerem e eu preferi
fechá-los. Parecia tão mais confortável deixá-los fechados. Suspirei mais uma
vez e não ouvi mais nada. Nem sequer o choro de Liz.
- Eu aviso para eles sobre o paciente Gustavo, Doutor, tudo
bem – Vi e ouvi a enfermeira baixinha. Olhei em volta e me vi deitado numa cama
de hospital. Surpreendentemente não havia tubos, aparelhos ou qualquer coisa
grudada em mim. Eu apenas estava lá, deitado, com alguns medicamentos para dor
jogados na mesa de cabeceira junto de embalagens de gazes. Passei a mão em
minha testa e entendi porque estavam apenas as embalagens jogadas na mesa.
Para ajeitar-me na cama fui cuidadoso, afinal não sabia ao
certo onde eram os pontos fortes das dores – uma vez que tudo doía.
- Enfermeira! Leve isso ao quarto 330 da paciente Liz!
Urgente! – Um médico mandou.
Liz! Oh meu Deus! Como será que ela estava? E... Urgente? Eu
não me perdoaria se entrasse no quarto da minha menina e a visse precisando de
aparelhos para viver. Eu, o culpado do acidente, não estava precisando. Não
faria sentido ela precisar.
Esperei por algumas horas a movimentação do corredor
diminuir e arrisquei-me levantar daquela cama. Não senti dores mais. Não sei ao
certo se foi porque já tinha acostumado com elas ou se simplesmente nada mais
estava importando enquanto não a visse.
Caminhei lentamente até a porta do meu quarto. Passei mais
uma olhada no mesmo. Ele estava escuro e do outro lado da cortina parecia ter
mais alguém deitado. Abri a porta cautelosamente para não acordar ninguém e saí
de lá. Eu estava no quarto 300. Olhei para os lados, certificando-me de que não
havia nenhuma enfermeira ou médicos andando no corredor naquela hora, apenas
visitas.
Engoli em seco. Eu precisava ver Liz. Encostei-me na parede
e fiquei encarando as placas que diziam para que lado a numeração dos quartos
subia ou descia. Fiquei momentaneamente tonto e minha respiração tornou-se
ofegante. Uma enfermeira passou correndo por mim e, por sorte, ignorou minha
existência. Mirei o final do corredor. O número 330 pareceu brilhar para mim.
Tentei dar o primeiro passo, mas só o que consegui foi me arrastar. E foi assim
que cheguei até a porta do quarto de Liz. Sorri. Encostei meu ouvido na porta.
Não iria entrar se ela estivesse recebendo uma visita. Só o que ouvi foi
soluços. Minha respiração ficou falha.
- Como é que é? – Ela disse em meio a suspiros. – Você está
mentindo! – Ela berrou.
- Eu gostaria, querida, mas não estou – Uma voz calma soou.
- N-não! Isso... Isso é mentira! – Liz berrou novamente. O
que raios poderia estar acontecendo com ela? Algum ferimento grave? Sem volta?
- Vai embora daqui! Eu sei que você só está fazendo seu
trabalho, mas eu não quero ver ninguém... – Ela respirou fundo, como se
estivesse pegando fôlego depois de 3 minutos debaixo d’água, e desatou a
chorar.
Quando ouvi passos aproximando-se da porta, tratei de sentar
nas cadeiras que ficavam em frente ao quarto do lado e me camuflar por lá. Quem
saiu de lá foi uma enfermeira com o rosto abatido. Ela fechou a porta.
Aproximei-me lentamente da porta novamente. Liz não chorava, ela esperneava.
Parecia que chorava à própria morte. Preferi não arriscar entrar naquele
momento. Ela precisava de espaço, tinha a ouvido pedir isso à enfermeira.
Voltei a sentar nas cadeiras do corredor.
Abri os olhos. Eu havia cochilado naquela desconfortável
cadeira do hospital (nem eu seu como). Haviam algumas pessoas sentadas ao meu
lado. Olhei para a porta do quarto de Liz e vi Amanda, sua amiga, sair de lá
com os olhos vermelhos de tanto chorar. Uni minhas sobrancelhas. Amanda teria
que me explicar o que estava acontecendo.
- Amanda! – Exclamei. Ela seguiu andando corredor à dentro.
– Amanda! – Disse um pouco mais alto. Ela ainda não tinha escutado e caminhava
à recepção do andar (vulgo o único lugar para onde não podia ir, se não seria
descoberto). De qualquer forma, não tive medo de gritar o seu nome. – AMANDA! –
Ela parou. Apoiou-se no balcão da recepção.
- Da licença – Ela disse. – Tem certeza que é o quarto 300
que está vazio? –
- Deixe-me ver, senhorita – A recepcionista foi simpática.
Revirou alguns papéis, olhou os olhos inchados de Amanda e afirmou com a
cabeça. – Tem que estar havendo algum erro! – Ela disse bem mais alto que o
permitido em um hospital.
- O que está havendo aqui? – Um médico intrometeu-se. A
enfermeira apontou para Amanda – Eu sou o médico de plantão, pode falar comigo
–
- O senhor atendeu o paciente Gustavo do quarto 300? – Ela
já chorava. Arregalei os olhos. Não tinha associado o número a mim antes de
ouvir falar meu nome.
- Querida, eu sei que isso é difícil, mas... –
- Eu entrei mais cedo hoje lá, ele estava deitado! – Ela
parecia incrédula.
- Apenas seu corpo estava... Está... Daqui a poucos minutos
retiraremos o corpo – O médico respondeu frio.
Desliguei-me do sofrimento de Amanda. Minhas pernas estavam
bambas. Só o que consegui fazer foi correr. E corri o mais rápido que pude até
o meu quarto. Esbarrei em algumas enfermeiras, mas elas não deram a mínima.
Podia sentir lágrimas descendo de meus olhos e era essa sensação que não me
deixava acreditar no que ouvira do médico.
Caminhei quarto à dentro e notei na cama em que acordara.
Ela estava intacta, nem parecia que eu havia estado deitado lá. Parei de frente
para a cortina que separava as duas camas naquele quarto. Senti um frio na
barriga quando ergui minha mão para puxá-la. Ia revelando a segunda cama
lentamente. Preferi fechar meus olhos com força. Parei de abri-la. Dei um passo
à frente e toquei na cama. Na verdade, em um pé coberto por um lençol. Tirei
minha mão rapidamente. Abri meus olhos e aproximei-me do outro extremo do
corpo. Pousei minha mão, lentamente, à barra do lençol e me vi fechando os
olhos com força novamente. Contei mentalmente até três e o descobri.
Foi como me olhar no espelho. Minha respiração tornou-se
rápida e notei na feição triste de meu corpo. Eu estava morto, afinal. Preferi
parar de martirizar-me e cobri novamente o corpo, fechei a cortina e saí
daquele quarto. Assim que saí, cruzei com Amanda e o médico entrando. Todas as
pessoas naquele corredor passavam por mim, mas eu não enxergava muito mais que
vultos. Minha visão estava embaçada. Cambaleei um pouco, mas consegui obrigar
meus pés a andar até o final do corredor. Queria vez Liz mais uma vez antes de
ir para onde quer que eu tivesse que ir. Parei em frente à porta e alguns
acordes simples de violão soavam tristemente no ar. Meu alvoroço foi tamanho
que ignorei a maçaneta e impulsionei meu corpo para frente. O pior é que eu
entrei.
Meu corpo estremeceu. Lá estava ela, sentada na cama de hospital,
abatida. Tudo o que eu mais queria era correr até lá e dizer que estava ali,
parado em frente a ela, ouvindo cada doce nota que ela tocava. Solucei alto
dentro de meu choro calado. Ela começou a cantar. Era uma música que ouvimos no
rádio naquela noite.
Abaixei a cabeça e desatei a chorar. Meu choro tornou-se um esperneio.
Eu estava lá, na frente dela e simplesmente não podia tocá-la, nem sequer falar
com ela. Liz começou a chorar. Ela tocava com dificuldade por conta dos
inúmeros aparelhos que estavam envolvendo e tocando seu corpo para mantê-la
ali.
Enquanto ela repetia o refrão incansavelmente, seu choro
tornava-se cada vez mais um berro. Aproximei dela rapidamente e aproveitei o
fato dela ter deixado o violão de lado para sentir-me mais perto de seu corpo.
Ela olhou para seus próprios pés enquanto tentava controlar seu choro. Eu
toquei seu queixo, mas, obviamente, ela nem sequer sentiu.
- Eu estou aqui, querida – Sussurrei. Ela se arrepiou.
Parecia ter sentido um calafrio.
- Queria que você estivesse aqui, Gustavo – Ela choramingou
enquanto voltava a deitar em sua cama. Eu continuei a observá-la. Para onde eu
iria a qualquer momento – se é que de fato eu iria a algum lugar – não me
importava. Para mim, o que importava era estar ali com Liz. Cuidar dela,
permitir que ela se recuperasse, transmiti-la a força que eu simplesmente não
tive.
Ela ajeitou-se na cama de forma que cabia mais uma pessoa
lá. Eu, involuntariamente, ajeitei-me naquele espaço. Deitei em sua cama e a
abracei por trás, encaixando perfeitamente minha alma a seu corpo. Notei que
todos os pelos de seu corpo se eriçaram e Liz fechou seus olhos. Ela parecia
gostar do conforto que de ter seus olhos fechados. Pareceu gostar tanto quanto
eu deitado no asfalto.
Voltei a ficar zonzo e simplesmente não pude mais agüentar
ficar lá. Os passos no corredor tornavam-se cada vez mais altos, o que me fez
deduzir que Liz teria mais visitas. Tratei de levantar da cama e lancei mais um
– talvez o último – olhar à minha amada. Deixá-la sozinha ali tinha um
significado bem maior para mim. Porque não era somente numa cama de hospital
que eu estava a deixando estar, era no mundo. Eu precisava descobrir o que iria
acontecer comigo dali para frente e, quem sabe, observá-la de longe. Toquei
meus lábios em sua bochecha e fiquei observando-a por mais alguns instantes.
Ela sorriu de olhos fechados. Eu sorri de volta, mesmo sabendo que ela não
estava vendo. Dei as costas para sua cama e caminhei em direção à porta.
- Ei! – Não pude acreditar. – Está indo aonde sem mim? –
Eu virei de costas e Liz estava sorrindo olhando para mim.
Atrás, o corpo dela relaxava no mesmo sono eterno que o meu."